este é o meu bloco de notas numa aventura asiática

quinta-feira, abril 14, 2005

qualquer dia sou deportada

Estou constipada e não consigo ficar horas a fungar com o nariz a pingar porque não me posso assoar porque é má educação... para mim não faz sentido e lá estou eu no metro a assoar-me. Perdoem-me os japoneses mas o meu pai então tinha um ataque cardíaco aqui já que desde a primeira vez que funguei na vida, devia ter 3 dias, ouço em reacção pavloviana “Assoa-te!”.
Também me recuso a usar uma máscara. Informo já que os japoneses usam máscaras não porque a cidade é poluída mas porque estão doentes e por cortesia e não querem contagiar as outras pessoas, ou então para evitar as alergias.
É outro sinal de civismo mas aqui os cuidados higiénicos raiam a paranóia. Há quem não toque nas barras do metro porque tem germes. Andam com uma toalha pessoal para secar as mãos quando as lavam nas casas-de-banho.
Outra coisa engracada é atravessar a rua. Podem ser duas da manhã, estradas vazias que o peão japonês pára sempre se o sinal estiver vermelho. Parto-me a rir. Na realidade admiro a responsabilidade e civismo mas fogo não há carros pah! São momentos divertidos ultrapassar um grupo de japoneses e atravessar com o vermelho (depois de verificar que não há mesmo carros e ter óptima visibilidade), mas acho que eles não devem gostar muito... Claro que só é conveniente fazer isso depois de estar habituado a que os carros venham da esquerda!
Mas o que me deixa estupefacta é que ninguém liga a nada! Ninguém olha para mim “olha esta gaijin a armar-se em boa!”, se faço qualquer coisa errada ninguém diz nada porque não é polite... Como um amigo japonês me dizia, quando consegui comprar uma entrada num museu com o desconto de estudante com o meu cartao caducado, “muitas vezes eles reparam que estás a fazer uma coisa errada, mas não é polite chamar à atenção”.
Eles fazem o trabalho de casa antes... São anos de lavagem ao cérebro para serem civilizados, educados, repeitarem os mais velhos e os superiores, não roubarem, não enganarem, nunca intervirem no espaço do outro. E nunca, nunca revelarem os sentimentos publicamente. Por todo o lado faces de ferro que não demonstram qualquer emoção. Não é que não sintam mas é assim que são ensinados a funcionar.
Ser estrangeiro é uma moeda de duas faces. Por um lado posso fazer o que me apetece porque sou gaijin, não percebo nada do Japão, sou perdoada. Por outro lado sou perdoada porque não faço parto do sistema deles, estou fora por isso sou irrelevante. Se fosse japonesa a pressão dos meus pares era imensurável. Respeitar o grupo, seguir as regras invisíveis mas obrigatórias e nunca, nunca falhar. Ser japonês é stressante.

3 Comments:

Blogger Joana said...

Nota-se... Não me parece que sejam um povo feliz, o que só prova que a felicidade não está nos bens materiais. Olha os brasucas: pobres que dão dó, mas são o povo mais feliz do Mundo!

Praia e uma cabana com uma rede é tudo o que precisamos...

11:07 da manhã

 
Anonymous Anónimo said...

eu acho divertido!
apenas para umas férias, claro!
nunca mais do que isso, para não chegar a nada patológico!

6:03 da tarde

 
Anonymous Anónimo said...

Quanto ao niilismo dos japoneses parece ser algo intrínseco e assumido, consequência da prática do Budismo Zen:

Zen
A school or division of Buddhism characterized by techniques designed to produce enlightenment. In particular, Zen emphasizes various sorts of meditative practices, which are supposed to lead the practitioner to a direct insight into the fundamental character of reality (see Ku and Mokuso).

Ku
Emptiness. According to Buddhism, the fundamental character of things is absence (or emptiness) of individual unchanging essences. The realization of the essencelessness of things is what permits the cultivation of psychological non-attachment, and thus cognitive equanimity. The direct realization of (or experience of insight into) emptiness is enlightenment. This shows up in aikido in the ideal of developing a state of cognitive openness, permiting one to respond immediately and intuitively to changing circumstances.

Mokuso
Meditation. Practice often begins or ends with a brief period of meditation. The purpose of meditation is to clear one's mind and to develop cognitive equanimity. Perhaps more importantly, meditation is an opportunity to become aware of conditioned patterns of thought and behavior so that such patterns can be modified, eliminated or more efficiently put to use. In addition, meditation may occasion experiences of insight into various aspects of aikido (or, if one accepts certain buddhist claims, into the very structure of reality). Ideally, the sort of cognitive awareness and focus that one cultivates in meditation should carry over into the rest of one's practice, so that the distinction between the "meditative mind" and the "normal mind" collapses.

7:40 da tarde

 

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